quarta-feira, 12 de novembro de 2014

MEDICINA: Bateria da medicina da USP Ribeirão Preto é acusada de racismo em hino, USP lamenta e nega conhecimento de letra

Versos são machistas, racistas e incitam violência sexual, diz Coletivo Negro.

Caso será discutido na Alesp; USP não se manifestou sobre as denúncias.



A Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) discute na tarde desta terça-feira (11) a realização de uma audiência pública para tratar de denúncias de racismo e machismo em um hino da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP) em Ribeirão Preto (SP). O caso veio à tona no sábado (8) durante uma palestra sobre violência contra a mulher, realizada pelo curso de enfermagem da USP. A letra, que traz expressões como "morena gostosa", "loirinha bunduda" e "preta imunda", é de autoria da bateria do curso de medicina, conhecida como Batesão.

Segundo postagens de alunos, o hino foi divulgado este ano em um manual para calouros da medicina, juntamente com camisetas da atlética do curso. Procuradas pelo G1, a Atlética Acadêmica Rocha Lima e a Batesão não comentaram o caso. Em nota divulgada no Facebook, no entanto, a bateria pede desculpas e diz ser contra "qualquer forma de discriminação e preconceito."

Também em nota publicada no Facebook, o Coletivo Negro da USP se manifestou contra o hino, classificando o texto como misógino e racista. A nota de repúdio afirma que os versos colocados no hino, além de faltar com respeito às mulheres negras, têm conotação sexual agressiva e chega a incitar a violência sexual. "A Batesão assume seu lugar de senhor de escravos, pega o chicote e violenta mais uma vez as mulheres negras, se não pelo estupro que nossas avós, bisavós sofreram por parte dos senhores e seus filhos, pela subjugação do nosso corpo negro."

Ainda pela rede social, alunos da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) também se posicionaram contra o hino, informando que encaminharão um documento pedindo providências à diretoria da instituição.
Contra o preconceito

A bateria do curso de medicina se posicionou diante das denúncias e publicou uma carta de retratação em sua página oficial no Facebook, onde diz ser contrária "a qualquer forma de discriminação e preconceito." O grupo justificou que os hinos divulgados no kit dos calouros de medicina contém canções antigas criadas por ex-alunos da universidade, e disse que por "descuido" não observou todas as letras.

"[As letras] foram criadas por antigos membros de décadas atrás, quando racismo e preconceitos eram comportamentos corriqueiros, embora sempre inaceitáveis (...) Afirmamos que nenhuma dessas letras foi escrita por nós, nem sequer são lembradas ou cantadas pela nossa Faculdade. Reiteramos ainda que em nosso cotidiano lutamos afirmativamente contra o racismo e o machismo."

USP
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da USP informou que a diretoria da faculdade de medicina só se manifestará sobre o caso na tarde desta terça-feira. Também procuradas pela reportagem, a Atlética do curso e a Batesão não comentaram o ocorrido.

Grupo denunciou bateria do curso de medicina por letra machista e racista.

Diretoria do curso em Ribeirão Preto diz que apura casos de teor negativo.

A diretoria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto (SP) lamentou na tarde desta terça-feira (11) a divulgação de músicas e letras com conteúdo racista e machista entre os alunos do curso. Desde o dia 8 de novembro, publicações de grupos de estudantes no Facebook denunciaram a existência de um hino da bateria da medicina, conhecida como Batesão, que utiliza termos como "morena gostosa", "loirinha bunduda" e "preta imunda".

O caso ganhou repercussão nas redes sociais e virou pauta de uma reunião na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), que discute na tarde desta terça a realização de uma audiência pública para tratar das denúncias. Procuradas pelo G1, a Atlética Acadêmica Rocha Lima e a Batesão não comentaram o caso. Em nota divulgada no Facebook, no entanto, a bateria pede desculpas e diz ser contra "qualquer forma de discriminação e preconceito".
Em nota divulgada à imprensa, a universidade afirmou que não tinha conhecimento da letra e música, e que o hino não é utilizado pela bateria do curso nos eventos oficiais da universidade. A diretoria confirmou, no entanto, que ao menos "uma das músicas tem letra ofensiva a todo ser humano, e às mulheres de todas as raças".

A USP também esclareceu que o material entregue aos calouros do curso de medicina, que contém o hino em questão, não se trata do material oficial impresso e distribuído pela Faculdade de Medicina aos ingressantes da universidade. "O que pode ser apurado, preliminarmente, é de que se trata de uma publicação feita por alguns alunos da FMRP-USP, e distribuída aos calouros, com 'músicas e letras' elaboradas por turmas anteriores. (...) Vale ressaltar que esta percepção não é somente atual, mas deplorável em qualquer momento da história."

Diante da carta de retratação publicada pela Batesão, que justificou que o hino foi mantido no material dos calouros por "descuido", a universidade reiterou que o fato não deixa de ser deplorável. "O fato da alegação que esta publicação foi feita a partir de um arquivo antigo, e de que faltou cuidado na revisão do material, não abona a nossa consideração de que se trata de uma situação lamentável."

Por fim, a direção da Faculdade de Medicina afirmou que não compactua com atos inapropriados e informou que todos os fatos negativos que chegam ao conhecimento da direção são apurados com "abertura de comissões disciplinares sindicantes e processantes".

Leia abaixo a íntegra da nota de esclarecimento divulgada pela diretoria da Faculdade de Medicina da USP Ribeirão Preto:

Nota de Esclarecimento

A Diretoria da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) manifesta grande preocupação diante das notícias, veiculadas na imprensa, sobre músicas e letras com conteúdo racista existentes no meio estudantil de nossa Unidade, e faz os seguintes esclarecimentos.
As manifestações públicas dos estudantes de Medicina que temos presenciado nos últimos anos têm, felizmente, direção oposta ao que está sendo noticiado. Corrobora esta afirmação as manifestações havidas, em sua maioria, diante da nossa presença, nos eventos organizados tanto pelo Centro Acadêmico Rocha Lima (CARL) como pela Associação Atlética Acadêmica Rocha Lima (AAARL), as duas associações estudantis da FMRP-USP. As referidas recentes manifestações, positivas, são listadas a seguir:
- Fórum de Ensino 2014 - “Pluralidade na Formação Médica” (05/2014);
- O Básico do Médico: Importância do Ensino Básico e Pesquisa na Formação Médica (08/2014);
- Baile Branco Comemorativo aos 60 anos da AAARL – Encontro com ex-alunos da FMRP-USP (09/2014);
- XV Congresso Médico Acadêmico – CARL - - Deficiências, uma abordagem multidisciplinar (09/2014);
- Show Medicina 2014 – Apresentação da Bateria com valorização da Cultura Negra no Brasil (10/2014);
- XIV Encontro AAARL de Medicina Esportiva – Equipe Multidisciplinar no Esporte (11/2014);

Anualmente, na recepção aos calouros, a FMRP distribui material impresso com informações úteis aos seus novos ingressantes, material este, de cunho oficial, cuidadosamente preparado pela Comissão de Graduação. Logo, a distribuição deste material oficial não deve, e nem pode, ser confundida com outra(s) realizada(s) sem o conhecimento e aprovação da direção da FMRP-USP.
Quanto aos fatos veiculados pela imprensa, o que pode ser apurado, preliminarmente, é de que se se trata de uma publicação feita por alguns alunos da FMRP-USP, e distribuída aos calouros, com “músicas e letras” elaboradas por turmas anteriores. Este material não é de conhecimento da direção da Faculdade na totalidade, mas nota-se que pelo menos uma das músicas tem letra ofensiva a todo ser humano, e às mulheres de todas as raças. Vale ressaltar que esta percepção não é somente atual, mas deplorável em qualquer momento da história. O fato da alegação que esta publicação foi feita a partir de um arquivo antigo, e de que faltou cuidado na revisão do material, não abona a nossa consideração de que se trata de uma situação lamentável.
Temos a convicção que tal “música e letra” não é do conhecimento dos docentes da Faculdade, assim como não era do nosso conhecimento, e nem da grande maioria dos alunos da FMRP-USP. Por outro lado, destacamos que a referida “música e letra” não têm sido utilizada pela “bateria dos alunos” nos eventos estudantis dos quais temos participado. Esta afirmação é baseada na observação do comportamento habitual dos nossos alunos que temos presenciado, quando tem sido identificado um engajamento social muito grande.
Entretanto, este episódio, não deve, e nem pode, ser relevado, mas sim, utilizado para se iniciar um exame de como fatos tão negativos puderam, em algum momento, não terem sido identificados, e devidamente recriminados por toda a comunidade da FMRP-USP. Temos a convicção que os atuais responsáveis pela “bateria” e a AAARL também estão desapontados com este episódio, e com um enorme sentimento de se desculparem com a comunidade da FMRP-USP, e com toda a sociedade paulista, a qual mantém os seus estudos.
A direção da FMRP-USP reitera sua disposição de não compactuar com atos inapropriados, e manifesta que todos os fatos negativos que chegam ao conhecimento da Direção têm sido alvos de abertura de comissões disciplinares sindicantes e processantes.
A sociedade, de uma maneira geral, pode ter certeza que a FMRP-USP continuará sua firme missão de formar profissionais de saúde com capacitação profissional, formação humanística, e envolvimento social.

Prof. Dr. Carlos Gilberto Carlotti Junior
Diretor FMRP-USP
Prof. Dr. Hélio César Salgado
Vice-Diretor FMRP-USP

FONTE: G1.COM

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